Delfim Netto foi uma figura central no “milagre econômico” e na política brasileira

Morreu na madrugada desta segunda-feira, 12 de agosto, aos 96 anos, o economista e ex-ministro da Fazenda Antônio Delfim Netto. Delfim Netto estava internado desde o dia 5 de agosto no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, devido a complicações em seu quadro de saúde. Figura controversa e influente, Delfim Netto desempenhou papéis na economia e na política brasileira, especialmente durante o regime militar.

Morte de Delfim Netto: entenda a carreira do economista

Delfim Netto foi ministro da Fazenda entre 1967 e 1974, durante os governos dos generais Artur da Costa e Silva e Emílio Garrastazu Médici. Esse período, muitas vezes chamado de “milagre econômico”, foi marcado por um crescimento recorde do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, que chegou a 14,4% ao ano. A política econômica implementada por Delfim Netto focou no estímulo ao crescimento econômico por meio de gastos públicos e incentivos à produção. Sob sua liderança, o país experimentou uma expansão na produção de bens duráveis, como eletrodomésticos e automóveis, no entanto, aquilo duraria pouco tempo.

Apesar do crescimento acelerado, a concentração de renda aumentou, e muitos dos benefícios econômicos foram concentrados em uma parcela restrita da população. Delfim Netto ficou conhecido por sua frase polêmica: “É preciso fazer o bolo crescer para depois dividi-lo”, sugerindo que o crescimento econômico deveria preceder a distribuição de riqueza. No entanto, a tão prometida distribuição nunca se concretizou de forma ampla, levando a críticas sobre as políticas adotadas durante sua gestão.

Papel na ditadura militar e controvérsias

Delfim Netto foi um dos signatários do Ato Institucional Nº 5 (AI-5), decreto que endureceu o regime militar e permitiu a perseguição de opositores políticos. Este ato marcou um dos períodos mais repressivos da ditadura militar no Brasil. Além de seu papel como ministro da Fazenda, Delfim Netto também atuou como ministro do Planejamento entre 1979 e 1985, durante o governo do general João Figueiredo, último presidente do regime militar.

Após deixar o cargo de ministro da Fazenda, Delfim Netto foi nomeado embaixador do Brasil na França, onde permaneceu entre 1974 e 1978. Sua carreira política continuou após o fim do regime militar, quando ele foi eleito deputado federal por São Paulo em 1986, cargo que ocupou por 20 anos consecutivos.

Contribuições acadêmicas e últimos anos

Além de sua atuação política, Delfim Netto possuiu uma carreira acadêmica. Formado pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP), ele se tornou professor catedrático em 1963 e Professor Emérito da instituição. Seus trabalhos acadêmicos focaram no planejamento governamental e na teoria do desenvolvimento econômico, e ele manteve-se ativo no debate público até o final de sua vida.

Delfim Netto publicou mais de dez livros e centenas de artigos e estudos sobre a economia brasileira. Ele colaborou com diversos veículos de comunicação, incluindo os jornais Folha de S. Paulo e Valor Econômico, e a revista CartaCapital.

Nos últimos anos, pouco antes de sua morte, Delfim Netto enfrentou investigações ligadas à Operação Lava Jato. Ele foi acusado de receber propina durante a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará. Delfim negou as acusações, afirmando que os pagamentos recebidos foram por serviços de consultoria.

O sepultamento de Delfim Netto será restrito à família, e não haverá velório aberto ao público.

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Equipe de jornalismo do portal Rede Norte Diario.