Conferencista de renome internacional, a missionária Edméia Williams participou do 68º episódio do podcast PodCrê ao lado da escritora Rute Salviano, responsável pela biografia da missionária intitulada “Resgatada para Resgatar”, que contém reflexões escritas pela pastora Helena Tannure.

Durante o bate-papo, Edméia falou sobre suas origens, sua conversão e sua trajetória no Evangelho. Filha de um imigrante da Guiana Inglesa, ela nasceu de um caso entre seu pai, um homem negro e protestante, e uma mulher branca e católica.

– Quando o filho mais velho do meu pai estava com 20 anos, ele adulterou com uma mulher branca, filha de Maria, presidente do apostolado da oração, branca, dos olhos verdes, irmã do padre e com duas irmãs freiras. E aprouve a Deus me formar no ventre dela, pegando a semente desse protestante negro – relata a missionária.

Apesar de ter sido criada em um ambiente de fé, frequentando a missa às seis da manhã e o culto às nove, Edméia revela que enfrentou o racismo dentro do próprio seio familiar.

– Eu fui criada no meio dessa confusão, mas não faltou Jesus, não faltou Evangelho, não faltou Salmo para memorizar, hinos para cantar e também tinha o terço. A família da minha mãe detestou e até hoje eu tenho problemas. Tenho um irmão que nunca me aceitou, principalmente pelo fato de eu ser negra. Quando era pequena, me disseram que o diabo era negro do cabelo pixaim e eu era a filha do pecado. Foi uma infância muito difícil, mas eu superei e hoje sou uma mulher feliz – testemunha.

Apesar das experiências na família, Edméia revela que seu verdadeiro encontro com Deus aconteceu enquanto morava no Iraque, na década de 70, quando conheceu Surreila, uma pastora de ovelhas de apenas 9 anos.

– Certo dia, eu estava limpando minha casa quando ouvi o barulho do rebanho. Surreila parou, passei no meio das ovelhas e ela estava chorando. Ela tinha um cordeirinho e me mostrou a perninha dele que estava quebrada. Ela pegou a patinha e [ele] deu um berro e, naquela hora, eu ouvi a voz de Jesus falando: “Eu também sou o teu pastor, eu sofro pela sua perna quebrada. Me deixa cuidar de ti”. Depois de muitos anos que eu não orava, eu ajoelhei chorando no meio da sala e disse: “Eu sei quem o Senhor é. Se o Senhor me levar de volta para o Brasil, eu vou fazer tudo que o Senhor quer” – recorda Edméia.

Durante a conversa no PodCrê, Edméia Williams ainda revelou um momento trágico em sua vida que foi a morte do esposo e da filha. A pregadora estava em Singapura quando o esposo sofreu um infarto. De volta ao Rio de Janeiro, ela fez um voto com Deus de que nunca mais iria se casar, mas que dedicaria todos os dias de sua vida a Deus. Na época, ela tinha 43 anos de idade.

Um ano após viver esse primeiro luto, Edméia sofreu a perda da filha de apenas 24 anos em decorrência do lúpus, numa época em que pouco se sabia sobre a doença.

– Minha filha morreu no hospital. Ela foi internada num dia e morreu no outro. Eu nunca fraquejei na fé, mas até hoje dói. Quando a gente enterra um filho, a gente nunca esquece, mas aprendemos a conviver com aquela dor. É como se a gente amputasse uma perna. A gente sobrevive sem a perna, mas a perna falta. Minha filha era minha maior amiga. Uma filha moça é um poema na vida da gente. Eu tenho um filho rapaz, mas a mulher tem essa doçura dentro de casa – comenta Edméia.

Edméia Williams é responsável por um dos projetos sociais mais importantes que existem no Rio de Janeiro, a Casa de Maria e Marta. A instituição localizada no morro Santa Marta, na Zona Sul da cidade, acolhe crianças para que elas não fiquem com tempo ocioso nas ruas. A iniciativa oferece aulas gratuitas e outras atividades extracurriculares para os menores enquanto seus pais trabalham.