A recente decisão do Banco do Povo da China (PBoC) de adotar uma série de estímulos para a economia da China gerou movimentação nos mercados financeiros globais. A redução de taxas de compulsório bancário e hipotecas já movimenta setores estratégicos, como o de commodities, impulsionando bolsas de valores ao redor do mundo. No Brasil, o impacto tem sido, principalmente, para mineradoras e siderúrgicas.
O pacote inclui cortes na taxa de reserva obrigatória dos bancos, além de uma queda nas taxas de hipotecas e redução na taxa mínima de entrada para aquisição de uma segunda residência. Na prática, essas medidas são vistas como uma tentativa de reaquecer o setor imobiliário e facilitar o crédito em meio a uma desaceleração do crescimento econômico Chinês.
O impacto inicial dos estímulos na economia da China e no Brasil
Os efeitos dos anúncios já começaram a aparecer. Na China, as bolsas reagiram com fortes altas, com o índice Xangai Composto atingindo seu melhor desempenho em 15 anos, subindo 12,8%. No Brasil, a resposta foi igualmente positiva. Ações de mineradoras como Vale (VALE3) e siderúrgicas como CSN (CSNA3) e Gerdau (GGBR4) dispararam, aproveitando o otimismo que envolve o principal destino das commodities brasileiras: a China.
O minério de ferro, essencial para os setores de construção e indústria, teve uma alta acumulada de 15% na semana, refletindo a expectativa de que a demanda chinesa possa aumentar. “A China é nossa maior parceira comercial, e qualquer movimento de recuperação lá reverbera diretamente aqui”, comenta Carlos Monteiro, analista de mercado da XP Investimentos.
Será que os estímulos serão suficientes?
Apesar da empolgação no curto prazo, muitos especialistas estão adotando uma postura mais cautelosa em relação ao impacto de longo prazo dessas medidas. A Pantheon Macroeconomics, por exemplo, sugere que os estímulos, embora significativos, não resolverão os problemas estruturais da economia chinesa. O setor imobiliário, que é um dos principais motores da economia do país, continua em queda, com as vendas de imóveis residenciais desacelerando consideravelmente.
“A China precisa encontrar novas fontes de demanda para substituir o colapso das vendas imobiliárias”, avalia um relatório da consultoria inglesa. Para isso, apontam que o governo precisaria implementar reformas estruturais, incluindo mudanças no sistema tributário e maior investimento em serviços públicos.
O Commerzbank compartilha uma visão similar, ressaltando que essas medidas monetárias podem ganhar tempo, mas não solucionar os problemas da economia da China. O banco alemão argumenta que, sem as “reformas certas”, os estímulos monetários serão apenas paliativos, sem gerar uma verdadeira recuperação econômica.
A fragilidade do setor imobiliário chinês
Um dos principais setores impactados pelos estímulos é o imobiliário. No entanto, mesmo com os cortes nas taxas de hipotecas, o mercado imobiliário chinês continua enfrentando dificuldades. O preço dos imóveis usados segue em queda, e as vendas de novas propriedades permanecem abaixo das expectativas.
Para Sok Yin Yong, analista de renda fixa da Julius Baer, as medidas não serão suficientes para reverter essa tendência. “As taxas de juros mais baixas podem ajudar no curto prazo, mas a demanda dos compradores continua fraca. O setor imobiliário chinês ainda precisa de um impulso mais robusto para se recuperar”, explica.